O número de casos cresceu durante a
pandemia e reduzir o tempo de exposição a esses aparelhos e a consulta ao
oftalmopediatra é a melhor forma de prevenir o desalinhamento dos olhos, distorção
que afeta a saúde ocular e a vida social.
O uso de celulares na infância durante
horas– hábito que se acentuou na pandemia da Covid 19 – aumenta o risco de a
criança desenvolver estrabismo convergente (ou esotropia), doença na qual os
olhos ficam desalinhados, com desvio para dentro. Se essa distorção não for
diagnosticada a tempo e tratada adequadamente, poderá causar sério dano à
visão, além da alteração estética, com relevante impacto psicológico e social.
O longo período de exposição às telas,
em geral, também está associado ao surgimento e aumento do grau de miopia.
Portanto, o melhor é prevenir, com consultas regulares ao oftalmopediatra. E o
cuidado com a saúde ocular deve começar ainda no pré-natal, quando é possível
detectar e controlar problemas oftalmológicos, como, por exemplo, toxoplasmose,
sífilis e herpes, que colocam em perigo a visão do feto.
Em relação ao estrabismo, um estudo
científico para investigar sua relação com a utilização de celulares, publicado
na revista “BioMed Central (BMC) Ophthalmology”,comprovou que crianças que
manusearam smartphones por mais de quatro horas diariamente por, no mínimo,
quatro meses, apresentaram maior risco de estrabismo.
Outras pesquisas oftalmológicas indicam
que o estrabismo convergente – a distorção mais comum – pode acometer também os
adolescentes. Casos nesse grupo etário foram relatados em diferentes artigos no
“Journal of Pediatric Ophthalmology & Strabismus”. Uma dessas investigações
foi realizada com pacientes na Itália, durante o necessário isolamento por
conta da Covid-19.
“Na pandemia, temos diagnosticado no
consultório um maior número de casos de estrabismo convergente. Esse fenômeno
tem acontecido em outros países, como no Japão. Quanto mais precoce o
diagnóstico e o tratamento, melhores serão os resultados. E isso vale para
qualquer doença dos olhos“, diz a oftalmopediatra Dra. Cassiana Parise, do
Hospital de Olhos Sadalla Amin Ghanem, empresa do grupo Opty.
Ela esclarece que há diferentes tipos
de estrabismo– alteração que acomete 5% da população infantil mundial e que
pode atingir um ou ambos os olhos. E suas causas, além do uso excessivo de
celulares, podem estar relacionadas a algum dano nos músculos que controlam o
movimento ocular, lesão no nervo óptico, entre outras. “É normal algum desvio
dos olhos até por volta dos seis meses de idade. Porém, se permanece depois
dessa fase, deve-se consultar um oftalmopediatra”, assegura.
E explica por fim a Dra. Cassiana: “Com
a falha, os olhos não focam a imagem no mesmo sentido, ao mesmo tempo, o que
pode levar à diminuição da visão, perda da percepção de profundidade e visão
dupla. Daí a importância de iniciar a correção assim que possível, que inclui o
uso de óculos, tampão, exercícios para os olhos ou cirurgia”; acrescentando que
“a negligência com a saúde ocular nos primeiros anos afeta o desenvolvimento
psicomotor e a capacidade de comunicação”.
Ainda sobre o tempo gasto diante das
telas, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) reitera a necessidade, mesmo
durante a pandemia, do controle por parte dos pais ou dos responsáveis das
horas passadas pelos seus filhos em dispositivos digitais.
Com o imprescindível isolamento social
na pandemia, as crianças e os adolescentes estão assistindo às aulas em
computadores, tablets e outros dispositivos eletrônicos, passando assim horas
de olhos grudados na frente das telas. Até mesmo as escolas que reabriram com
atividades presenciais ainda estão utilizando mais as ferramentas virtuais para
o ensino a distância. E tanto esforço pode afetar a saúde ocular, com prejuízo
no aprendizado.
Se o aluno já sofre de algum problema
de vista, terá desinteresse, falta de concentração e maior dificuldade para
compreender o conteúdo. O que para muitos pais ou responsáveis parece preguiça
de estudar, pode ser resultado de alguma deficiência visual. Por isso, a
consulta prévia a um oftalmopediatra é essencial para detectar e tratar
qualquer doença dos olhos.
Ao nascer– Já no pós-parto, os recém-nascidos precisam passar pelo “teste do
olhinho”; um exame fundamental para investigar alterações que exigem
intervenção médica urgente, tais como catarata (maior incidência em bebês cujas
mães tiveram infecção) e glaucoma congênitos (um sinal é a fotofobia), e
retinoblastoma (tumor na retina, área que gera as imagens).
Primeira consulta– Até completarem dois anos de vida, os bebês, com sintoma ou não de
problemas de vista, precisam, a cada seis meses, ser levados ao
oftalmopediatra. Após essa idade, se estiver tudo bem, a criança deverá ser
examinada anualmente até os dez anos. Isso porque são na fase pré-escolar (dos
4 aos 6 anos) e na segunda infância (dos 6 anos à puberdade) que costumam
aparecer os erros de refração (miopia, astigmatismo e hipermetropia, males que
podem ser hereditários).
Sintomas de miopia – A visão de longe é borrada - Em um olho normal (sem grau ou
emétrope), a luz primeiro passa pela córnea (a lente externa), pela pupila
(estrutura que controla a quantidade de luz que chega ao interior do olho) e
pelo cristalino (lente interna), sendo direcionada à retina. Na miopia, a visão
de perto é boa, mas fica embaçada de longe. Ocorre quando o comprimento do olho
é maior que o normal, a córnea é muito curva ou quando o cristalino tem
formato, espessura ou posição anormais. A correção pode ser feita com óculos,
lentes de contato, cirurgia a laser e implante de lentes intraoculares (para
graus maiores). Assim que possível, é preciso oferecer mais tempo de atividades
ao ar livre às crianças, no mínimo 40 minutos diários.
Pesquisas recentes sugerem que a luz do
sol ativa a produção da substância dopamina (um mensageiro químico do sistema
nervoso), que, entre outras funções, atua para evitar o crescimento além do
normal do globo ocular, reduzindo, assim, o risco de miopia ou piora desse erro
refrativo. Outros estudos indicam que a luz do sol estimula a fixação de
vitamina D, que parece ter papel importante na visão. Muitos estudos tem
relacionado o aumento da miopia com o uso excessivo de eletrônicos,
especialmente os de perto (tablets e celulares), por isso é tão importante
limitar seu uso!
Sintomas de hipermetropia - De perto a criança vê tudo borrado – Na hipermetropia, as visões de
longe e de perto são embaçadas. Acontece quando o comprimento do olho é menor
que o normal, a córnea é muito plana ou o cristalino tem formato, espessura ou
posição anômalas. Ademais, a luz que entra não é focada corretamente na retina,
deixando os objetos borrados. O principal fator é a herança genética. E a
criança e o adolescente têm queixas de cansaço ou desconforto ocular após
esforço prolongado de visão para perto; dor de cabeça e dificuldade de
concentração. A correção pode ser feita com óculos, lentes de contato, cirurgia
a laser e implante de lentes (graus elevados).
Sintomas de miopia - Tudo parece meio turvo para a criança – No astigmatismo ocorre a
perda da nitidez da visão em diferentes graus devido a irregularidades da
superfície das lentes do olho. Com o defeito, a imagem chega à retina
distorcida e dividida. E a visão fica borrada de longe e de perto. Em pouco
grau, normalmente não atrapalha e nem sempre precisa de correção com óculos,
lentes de contato ou cirurgia. É comum estar associado à miopia ou à
hipermetropia. Geralmente, é herdado.
Ambliopia – A ambliopia, isto é, a baixa de visão, também conhecida como olho
preguiçoso, acontece quando o cérebro estimula mais um olho que outro e eles
não atuam em conjunto.