O câncer de pâncreas tem chamado a atenção não apenas
pelo aumento da incidência, mas pela agressividade. Rotineiramente, atendo
pacientes que relatam histórias tristes de familiares ou conhecidos que
enfrentaram o tumor. Infelizmente, esta impressão reflete uma verdade
estatística: o câncer de pâncreas apresenta uma alta taxa de mortalidade.
No Brasil, é responsável por 2% de todos os tipos de câncer
diagnosticados, mas é a causa de 4% do total de mortes causadas pela doença.
Raro antes dos 30 anos, torna-se mais comum a partir dos 60. Segundo a União
Internacional para o Controle do Câncer, os casos de tumor no pâncreas aumentam
com o avanço da idade: de 10/100 mil habitantes entre 40 e 50 anos para 116/100
mil entre 80 e 85 anos. A incidência é mais significativa no sexo masculino.
O pâncreas é uma glândula de aproximadamente 20
centímetros de extensão localizada atrás do estômago, entre o duodeno e o
baço, e faz parte do sistema digestivo e endócrino. Tem função tanto
exócrina (secretando o suco pancreático, que contém enzimas
digestivas) quanto endócrina (produzindo hormônios importantes
como a insulina). É divido em cabeça, corpo e cauda.
São duas as principais causas que fazem com
que o câncer de pâncreas tenha alta letalidade. O primeiro é o fato de que, na
maioria dos casos, o diagnóstico é tardio, já em estágio avançado da
doença. Isso ocorre porque os sintomas muitas vezes demoram a aparecer ou
passam despercebidos até que o tumor cresça e atinja as estruturas próximas. O sintoma
mais característico é a icterícia (olhos e pele amarelada) decorrente da
obstrução do canal que leva a bile do fígado para o intestino. Emagrecimento
sem causas evidentes, dor persistente no abdômen e nas costas e
surgimento repentino de diabetes são sinais de alerta.
Além de observar essas manifestações, precisamos ficar atentos
aos fatores de risco. Estes podem ser divididos em hereditários ou adquiridos.
Dentre os hereditários, podemos destacar síndromes como câncer de mama e de
ovário hereditários associados a determinados genes, síndrome de
Peutz-Jeghers e síndrome de pancreatite hereditária. Os principais
fatores de risco adquiridos durante a vida são obesidade, fumo, sedentarismo,
diabetes e pancreatite crônica não hereditária.
A melhor estratégia para mudarmos esta realidade é prestar mais
atenção ao nosso corpo e à nossa saúde, procurando auxílio de
profissionais especializados sempre que percebermos algum sinal de alerta.
Também é importante adotar um estilo de vida saudável. Evitar a exposição ao
tabaco da forma ativa e passiva, praticar atividade física regular, manter uma
alimentação saudável, evitar a ingestão abusiva de álcool e controlar o
sobrepeso e a obesidade são maneiras de prevenir o câncer de pâncreas e a
maioria dos tumores e doenças crônicas. Lembre-se: mudando seus hábitos, você
poderá mudar sua vida!
A segunda causa que contribui para a evolução do câncer de
pâncreas é o atraso do tratamento adequado. Muitas vezes o paciente demora a
chegar ao especialista, mesmo após ter feito o diagnóstico. A medicina tem
evoluído rapidamente e hoje temos um arsenal de possibilidades terapêuticas
para a grande maioria dos cânceres.
Existem médicos oncologistas, tanto clínicos como cirurgiões,
dedicados especificamente ao tratamento do câncer de pâncreas e aptos a
oferecer o melhor tratamento para cada situação. Os avanços nas técnicas
cirúrgicas, a utilização de tecnologia de última geração, a experiência dos
radiologistas na avaliação nos exames e a associação de quimioterápicos
e radioterápicos antes ou após a cirurgia vêm trazendo resultados
cada vez melhores e aumentando a chance de cura ou controle da doença.