Blog Top Society - Karla Cruz

NOVAS DEMANDAS, NOVOS HÁBITOS, ANTIGAS NECESSIDADES...

02/10/2020    Maristela Brites

Revista Topsociety em entrevista com a Arquiteta Maria Pilar Arantes.


 
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1-Seu curso Decoração de Interiores modalidade EAD , teve maior procura na pandemia? Fale sobre o Curso .
Sim, houve um aumento de matrículas neste e nos outros cursos EAD que oferecemos, todos eles voltados para a área do design de interiores.
O curso de Decoração de Interiores é um curso bastante abrangente no que toca ao desenvolvimento da capacidade criativa, analítica e conceitual do aluno/a. Nele, desenvolvemos em profundidade esta parte do processo, que é a criação do conceito estético, levando ao estudante conhecimentos sólidos sobre como o ser humano percebe e assimila a estética dos elementos visuais. Afinal, o que é a arte de decorar ambientes, senão a habilidade de saber compreender os aspectos mais subjetivos que os objetos com suas formas, cores, texturas e proporções provocam na parte sensorial e psicológica do usuário do espaço? Compreender a diferença que há entre uma mesa redonda ou quadrada, uma parede verde escura ou laranja vivo nos estímulos cerebrais e no tipo de sensação que se deseja para cada espaço é imprescindível para o bem estar humano. E no curso ensinamos quais são esses estímulos e como uni-los em um projeto de decoração visando atender à personalidade única de cada cliente. Além do mergulho na parte estética, também falamos da organização espacial do ambiente, o que é super importante sob o ponto de vista da ergonomia, da segurança, mas também da estética, pois se você coloca um sofá paralelo ou em diagonal em relação a uma parede, além dos aspectos relacionados à circulação você também tem forte influência na percepção do dinamismo do espaço, deixando-o mais quente ou mais, frio, mais agitado ou monótono, assim por diante. O melhor de tudo é que em nossos cursos tudo é exemplificado com imagens relevantes para o tema abordado. As videoaulas são como se o aluno estivesse com a docente em sua presença, e além disso se pode ter videoconferência comigo para tirar dúvidas.


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Figura 1: captura de tela de uma das videoaulas do curso de Decoração de Interiores do Centro de Artes e Design, no qual os conteúdos são sempre trabalhados junto com imagens e com a explicação em vídeo pela docente. Sistema audiovisual é bastante eficaz para a aprendizagem, juntamente com exercícios de fixação.

2-Para quem tem vontade de cursar design de interiores qual a "dica " ou orientação você daria ?
Além de fazer os cursos voltados especificamente para esta área (quem quer trabalhar com decoração tem que estudar decoração!), continuar estudando sempre através de fontes fiáveis. Me entristece muito ver que pessoas seguem blogs, perfis de Instagram e outros meios alimentados por pessoas leigas ou até meios de comunicação que não fornecem informações respaldadas em dados históricos, técnicos ou científicos. Vejo muitas pessoas espalhando expressões e conceitos errados e isso é muito ruim tanto pela questão ética, quanto pela manutenção do bom conceito do profissional de decoração de interiores. Infelizmente algumas pessoas tendem a ver a decoração com futilidade, e se alguns profissionais continuarem a dizer certas coisas erradas, ou se expressarem de forma muito simplória (que é diferente de simples) isso contribuirá para a má fama da profissão. Vou dar o exemplo mais comum que vejo: dizer que há um “estilo contemporâneo”. Não existe, nem poderá existir um rótulo “estilo contemporâneo” como existe corretamente um “estilo Luís XV”, por exemplo. Mas é o que mais se ouve: “projetei a sala do cliente em estilo contemporâneo”. Me arrepio...e explico isso no curso para que pelo menos nossos ex-alunos não digam isso. Assim vamos educando o olhar e o vocabulário também.
 

Nossos cursos de curta duração, os “pocket cursos” do Centro de Artes e Design são ótimos para atualizar os profissionais e também para os leigos que desejam conhecimentos pontuais para um uso específico, por exemplo o curso “Tapetes na Decoração de Interiores” que é excelente para quem vai investir num tapete poder fazer a compra totalmente respaldada em conhecimento técnicos e estéticos de um centro de investigação de design como o nosso. Vai economizar na compra e levará o tapete dos sonhos, sem ser dirigido só pelo vendedor. E nessa linha há vários outros cursos: Objetos na decoração, Cor no Design de Interiores, Quadros na Decoração, etc. Até o momento são 12 cursos EAD.

3-Acredita em mudanças na profissão design de interiores em um cenário pós-pandemia?



Mais do que acreditar, tenho esperança. Minha esperança é que os profissionais leiam mais sobre teoria estética, sobre história da arte, sobre características técnicas dos materiais, e sobre todos os temas relacionados à profissão. Em geral os cursos de design de interiores são rápidos e é verdade que não há tempo de se mergulhar em teorias em cursos de 1 ano e meio ou menos, pois já se parte para a prática. Então entra a responsabilidade do profissional em continuar se aprimorando após concluir cada curso, desenvolvendo seu senso crítico para ser um gerador de novas idéias  e não apenas um repetidor de modismos ou plagiador de outros.
O designer de interiores tem que mergulhar em conhecimentos sobre materiais sustentáveis e sobre como realizar as reformas e decoração de interiores de maneira mais ecológica possível. 
Também deverá investir tempo de estudo em como ampliar seu repertório verbal para explicar seu conceito para o cliente, pois a base desta capacidade de justificar as escolhas é o conhecimento prévio sobre como elas influenciam o humor e a saúde do usuário do ambiente, como podem mudar a percepção do espaço construído tanto em relação à dimensão quanto ao nível de formalidade e sofisticação; e isto tudo passa por conhecimentos básicos de neurociência. A neurociência aplicada ao design já tem ramos nomeados: neuroarquitetura e neurodesign. É se aprofundar no conhecimento sobre como a nossa mente se comporta diante de certos estímulos visuais e com as dimensões espaciais.

4-Os profissionais de decoração constataram  que as pessoas estão buscando renovar ambientes em casa, com mais conforto e facilitando o fato de estar mais em casa, home office, reformando ambientes.
Isso gera oportunidades de contratação de profissionais?

Gera muitas oportunidades! Tudo terá que ser repensado: residências incorporando espaço de trabalho e isso pode mexer com o layout de toda casa; consultórios adotando medidas seguras; escritórios encolhendo e se tornando mais funcionais porque se incorpora agora o teletrabalho; lojas com circulações mais amplas e sistema de atendimento adaptado para diminuir o contato. Há hábitos que fomos obrigados a incorporar que creio que ficarão. Eu, particularmente, acho muito bom! E veja como agora, mais do que nunca, o profissional de design de interiores e decoração deverá ampliar seus hábitos de leitura, abraçando áreas como a neurociência num nível básico para não cientistas.


NOVAS DEMANDAS, NOVOS HÁBITOS, ANTIGAS NECESSIDADES...


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Uma das grandes mudanças impostas pelas medidas de confinamento foi a inserção, à força, do mundo digital na vida das pessoas: crianças, jovens e adultos de todas as idades. Percebemos o quão atrasados estávamos em tecnologia para aplicar em ações até então presenciais, como por exemplo, realizar as aulas online, atender aos clientes através de videoconferência, e tantas outras novas demandas.

Como consequência, em meio à avalanche de novas informações que deveremos interpretar no meio digital, seremos elevados a um patamar que nos obrigará a ser mais criteriosos em nossas escolhas, e seremos impulsionados a desenvolver novos hábitos educacionais e comportamentais gerais, tais como:

- A leitura. Com a facilidade da informação digitalizada, agora é necessário saber separar o que é relevante ou não do conteúdo que me interesse, e sua adequação a num determinado momento. O designer de interiores responsável vai buscar informações confiáveis. Espero que desapareçam muitos conteúdos que distorcem a verdade.

- Capacidade de concentração. A leitura interpretativa exige concentração. Será que com o ritmo de vida e as distrações que temos nos dia a dia seremos capazes de nos concentrar na leitura de instruções? Conseguiremos parar quietos para analisar o que nos é demandado? Quando o cliente souber esperar para que o designer de interiores tenha tempo de criar, e o designer de interiores se concentre na parte mais teórica e abstrata do projeto para encontrar o ponto mais próximo do conceito ideal, teremos uma nova onda de projetos de vanguarda incríveis! Nisso creio!

- Organização pessoal. Pessoas tendo que se reorganizar para tudo no âmbito pessoal e profissional. Seremos obrigados a repensar nossos processos desde o mais simples ao mais complexo.

Neste mundo digital o distanciamento social e a atenção cada vez maior que dedicaremos à qualidade dos ambientes fechados  impulsionará o design de interiores a buscar o equilíbrio emocional das pessoas através de estratégias tão antigas quanto o cérebro humano, por exemplo, a biofilia.

A biofilia aplicada ao design de interiores trata de trazer para o espaço informações sensoriais (visuais, olfativas, auditivas, gustativas e de toque)  que se referem à natureza, que apresenta padrões em micro e macro escala que nosso cérebro percebe mesmo que não pensemos neles. Fluxos, movimentos, iluminação, formas, materiais, cores, texturas, proporções: tudo isto existe na natureza de várias formas, inclusive em escala molecular, e está em nossos genes a identificação com eles. Claro que usar materiais naturais está incluído nisto tudo, mas a coisa pode ser mais abstrata do que estamos acostumados a ver com nossos olhos viciados aos padrões da moda.
Dentro deste contexto, existem os fractais que são explorados, por exemplo, nos produtos de empresas de vanguarda do design, como o Mohawk Group.

   
Um fractal é um padrão que se repete infinitamente e complexos que são semelhantes em diferentes escalas. Eles são criados pela repetição de um processo simples continuamente em um ciclo de feedback contínuo. Os padrões fractais são extremamente familiares, pois a natureza está cheia de fractais. Por exemplo: árvores, rios, costas, montanhas, nuvens, conchas, furacões, um floco de neve, etc.
Veja que, ao contrário do que se divulga nas redes sociais e blogs não especializado, a biofilia aplicada ao design de interiores não se resume a colocar plantas dentro do espaço. O uso pode ser muito mais sutil ou explícito estando incorporado no design dos objetos e superfícies. A isso me referia antes, quando dizia que os profissionais terão que ler mais em fontes técnicas e científicas antes de comentar ou espalhar informações sobre determinados assuntos.



Na arquitetura há muitos profissionais que já adotaram esta ideia de biofilia em seus projetos e foram galardoados com prêmios internacionais, como o arquiteto Francis Kéré em seu projeto em Xylem, pavilhão de reuniões do Tippet Rise Art Center, Montana, EUA.

  

O projeto de Design de Interiores deverá gerar uma resposta psicológica ou cognitiva positiva ao usuário. Um ambiente que seja equilibrado tanto em quantidade quanto em qualidade de informações visuais: nem excesso, nem falta. 
Tanto no ambiente residencial, quanto no comercial e de serviços, devolver ao usuário dos espaços construídos o contato, mesmo que subjetivo, com a natureza é imperante.
Outro projeto marcante nesta linha da emoção e biofilia, é o Maggie’s Centro de cuidado para a pessoa com câncer, no Reino Unido. Desenhado por Heatherwick Studios. Basta observar os materiais, as linhas e formas, as texturas e a própria implantação da edificação em seu entorno para se sentir integrado: estamos na casa comum, a Terra.


   
Sim, emoção é a palavra-chave que vem humanizar o design de interiores em tempos digitais, em épocas de distanciamento social. Ela vem para equilibrar a vida aparentemente fria que pelo visto experimentaremos por alguns períodos sempre que houver um evento como pandemia, guerras ou catástrofes naturais. É neste caminho que o designer de interiores deve construir sua trajetória e elaborar seus projetos, enquanto vamos nos adaptando aos novos tempos como vimos fazendo a milhões de anos sobre a face da Terra.

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Créditos das imagens:

Figuras 1 a 5: propriedade de Maria Pilar Arantes
Figuras 6a, 6b, 6c:  Mahawk Group, em:  https://www.mohawkgroup.com/
Figura 7: Fractal, em:  CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=205443
Figura 8: Fractal, em:  http://www.capturedlightning.com 
Figuras 9a, 9b, 10a, 10b: Kere-architecture (arquiteto Francis Keré – Gando, África; escritório na Alemanha)
Xylem pavilhão de reuniões do Tippet Rise Art Center, Montana, EUA, em: http://www.kere-architecture.com/
Figuras 11, 12a, 12b: Maggie’s Centro de cuidado para a pessoa com câncer, no Reino Unido. Desenhado por Heatherwick Studios, em:   https://www.maggies.org/our-centres/maggies-leeds/
Figura 13: Extralibris – diário das coisas, em : https://extralibris.org/  de Fabiano Caruso: caruso@extralibris.org

SOBRE MARIA PILAR ARANTES
Maria Pilar Arantes é arquiteta (1992) pós-graduada pela Universidade Federal de Santa Catarina (1999). Empresária, fundadora do Centro de Artes e Design, instituição de ensino que lançou em 1999 o primeiro curso Técnico em Design de Interiores de Santa Catarina, e que hoje é um importante centro de pesquisa e difusão do design de interiores através de seus cursos. 
Docente por vocação, desenvolve e ministra cursos presenciais, à distância e In Company, e já formou mais de 5.000 pessoas com os cursos oferecidos pelo Centro de Artes e Design em 21 anos de atuação. Colabora com outras universidades em cursos de graduação e pós-Graduação. 
Escritora do livro “Fundamentos da Estética em Design de Interiores” pela Editora MSPublishers; escreve para portais especializados em arquitetura e design e meios digitais e físicos que a convidam. 
Estudiosa de História da Arte pela universidade espanhola UNED, nunca para de se atualizar e compartilhar o que aprende, dando sentido ao slogan do Centro de Arte e Design: Profissionais formando Profissionais.

Link para o livro:  acesse a página principal do site do Centro, e lá haverá a publicidade do livro com o link:    www.centrodeartesedesign.com
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