As “dietas milagrosas”, a exemplo da lua, e o uso de
medicações, sem prescrição médica, com a finalidade de emagrecer exigem atenção
redobrada para não provocar danos ao organismo e a saúde de forma geral.
Recentemente, uma onda tomou conta das redes sociais e parte da internet,
usuários elegeram o remédio Ozempic como fármaco eficaz para a perda de peso
rápida. Alguns mitos em relação a esse tema precisam ser desconstruídos.
No
Brasil, o remédio, que contém o princípio ativo semaglutida, era liberado
apenas para o tratamento de diabetes, agora, como nos EUA e em outros países,
também é usado para o tratamento da obesidade. Provavelmente, os usuários das
redes sociais por aqui foram “inspirados” pelo que já ocorre nesses locais e
incluíram o Ozempic como uma das “fórmulas mágicas” para a perda de peso sem
esforço, mas essa informação deve ser revista.
O
Ozempic é indicado, em conjunto com dieta e exercícios, para tratar pacientes
adultos com diabetes tipo 2, não controlada, ou seja, em que o nível de açúcar
no sangue permanece muito alto e pode desencadear outros efeitos colaterais,
como Acidente Vascular Cerebral (AVC), cegueira, problemas cardíacos, doenças
renais crônicas, perda de audição e amputação de parte dos membros.
O
tratamento da diabetes com o Ozempic requer uma avaliação médica e a realização
de exames para garantir sua eficácia no tratamento da doença e se não há
contraindicação. Entre os efeitos adversos do uso do remédio estão:
náusea, vômito, diarreia, entre outros problemas gastrointestinais. Poderá
ocorrer o risco do aumento da incidência de pancreatite, mas com menos
frequência. Em contrapartida, quando é indicado para um paciente com diabetes
terá o apelo do uso para cardioproteção e controles da obesidade e
glicêmico.
Um
paciente com diabetes que tem um estilo de vida saudável, com a adoção de uma
dieta regular e que faz atividades físicas, consequentemente, perderá
peso, mas o Ozempic sozinho não impulsionará essa mudança. À parte a diabetes,
a obesidade é uma doença crônica que requer tratamento médico. A pessoa, que
sofre desse mal, precisa de ajuda médica para construir um plano alimentar e se
esforçar para sair do sedentarismo.
Sobre
o uso de remédios para tratar a obesidade, eles são indicados para o paciente
que mudou o estilo de vida, ou seja, alimenta-se de forma adequada e pratica
atividade física, mas não perde peso. Nesse caso, é preciso avaliar a
prescrição do medicamento que atua em diferentes áreas do organismo, tanto na
absorção de gorduras, quanto no sistema nervoso central para inibir a fome e a
sensação de saciedade. Caso o tratamento medicamentoso e a mudança do estilo de
vida não surtam efeito pode ser indicado a cirurgia bariátrica, mas o médico
avaliará cada paciente e indicará a melhor técnica.
No
Brasil existem muitas farmácias, aquele atendimento de balcão em que é possível
comprar remédios sem receitas, não só do princípio ativo semaglutida, mas
de todas as outras classes. Alguns estudos apontam que 50% de todas as
medicações compradas são utilizadas de forma irregular, ou seja, diferente do
que é recomendado pelo fabricante, simplesmente pelo fato das pessoas terem
acesso sem receita, prescrição ou orientação profissional, o que aumenta o uso
inadequado em pacientes com contraindicações. Médicos e autoridades de saúde no
país estão preocupados com esse uso de forma não segura. Novamente, a perda de
peso é um processo complexo que deve ter como foco a mudança do estilo de vida,
acompanhada por um profissional de saúde. “Dietas e fórmulas milagrosas” não
são caminhos seguros para a melhoria da saúde e do
bem-estar.
Contribuição de:
*
Eduardo Rauen é cofundador da healthtech Liti,
que trabalha para resolver a dor do sobrepeso e da obesidade no Brasil. É médico
formado pela Universidade do Oeste Paulista (Unoeste). Integra o corpo clínico
do Hospital Israelita Albert Einstein. É médico nutrólogo (com título de
especialista pela ABRAN – Associação Brasileira de Nutrologia) e do Exercício e
do Esporte (com título de especialista pela SBMEE – Sociedade Brasileira de
Medicina do Exercício e do Esporte). Também atua como diretor técnico do
Instituto Rauen – Medicina, Saúde e Bem-Estar.