Do espartilho pesado e asfixiante, feito com
material de tapeçaria e cordas, a modeladores que priorizam o conforto e
entregam variedade de cores, formatos, estilos e tamanhos, há um novo
comportamento de consumo que moldou o mercado. Como na moda outwear, foram traçadas infinitas possibilidades de design, modelagens e tecidos.
Com mais de 100 anos desde a comercialização
do primeiro sutiã, o jeito de pensar e fazer lingeries mudou e ganhou destaque,
e todo esse universo se tornou parte do mundo fashionista. As roupas íntimas
deixaram de ser antagonistas para ser tendência como parte de composições
modernas, elegantes, casuais ou sexy, e possuem mais do que
uma função estética, sendo acessórios funcionais.
No mercado há mais de 20 anos, a Yang Modeladores é um exemplo de marca
nacional que lá atrás decidiu dar um novo estilo ao acessório menos sensual do
universo das lingeries: as cintas pós-cirúrgicas. “Nossas clientes diziam que
gostavam do resultado do produto, mas não o achavam bonito, e tinham vergonha
de comentar que usavam cinta. E, depois da recuperação, as peças ficavam sem
uso”, relata Cristini Oliveira, diretora-executiva da Yang, responsável pela
estratégia de desenvolvimento de produtos da empresa.
Foi quando a fundadora, hoje conselheira da
marca, Ângela Freire, abriu a fábrica própria e criou cintas com bojo, o que
revolucionou o setor. Na época a peça impulsionou as vendas, mas o que colocou
a Yang definitivamente no radar da moda foi a Linha Luxo, lançada em 2014, com
modeladores que combinavam beleza e funcionalidade.
“Ângela contratou uma estilista para
desenvolver essa linha; antes disso nunca havíamos colocado renda em uma cinta
modeladora. Lançamos sutiãs de sustentação, corpetes e calcinhas de cós alto,
resgatando o estilo retrô e trazendo para o mercado um produto bonito, de uso
diário, que modela e sustenta. Um artigo de moda íntima funcional”, relembra
Cristini. “A funcionalidade fica a cargo da tecnologia do tecido,
que contribui para a saúde do corpo. Ativa a circulação, trata a pele,
corrige a postura e permite total transpiração e movimentação com segurança e
conforto”, completa.
Ao se renovar, o mercado nacional de peças
íntimas cresceu 26% em 2021, e finalizou o ano com faturamento de R$10,8
bilhões, aponta o levantamento realizado pelo IEMI — Inteligência de Mercado.
Não há dados públicos sobre a porcentagem de peças modeladoras produzidas no
Brasil, mas é nessa brecha que a Yang concentra 70% da sua produção de
lingeries funcionais, unindo o melhor dos dois mundos: modelagem e peças para o
dia a dia.
Mas para aproveitar os bons números do setor
é necessário que as marcas ofereçam mais que o básico; em contrapartida, as
consumidoras buscam beleza e conforto, além de variedade e representatividade,
sendo este último um ponto que se fortaleceu nos últimos
anos.
“O empoderamento feminino é sobre
descoberta, aceitação e amor-próprio. Em determinado momento nos questionamos
como a Yang se encaixava nessa tendência. Foi quando mudamos nosso
posicionamento. Reforçamos que as peças da Yang nascem para evidenciar o que já
é bonito. Criamos lingeries modernas que sustentam e modelam, para serem usadas
como peças íntimas ou acessórios. Atendemos dos tamanhos 42 ao 56 e também
peças sob medida”, reforça Cristini.
A diversidade fideliza clientes e torna esse
mercado lucrativo. Algumas marcas já perceberam isso. Gigantes da moda íntima
mundial sentiram o peso da falta de representatividade e receberam diversas
críticas por ainda hoje exaltar corpos excessivamente magros em suas campanhas.
A Yang faturou R$6,8 milhões em 2021, e
prevê chegar aos R$10 milhões até o final de 2022. “Nós fazemos muitas
pesquisas de tendência, viajamos, vamos a feiras do segmento. Mas estar
atualizado com o que acontece no mundo é mais do que o produto pelo produto: é
o que a gente comunica com ele, o benefício para além do consumo. É importante
considerar as dores e os desejos do público que queremos atingir”, conclui a
diretora da rede.