Inspirada nas crises ambientais que o mundo vem atravessando, Duda Oliveira desenvolveu um novo método de arte experimental, utilizando-se da técnica de fermentação da levedura, para interferir nos efeitos visuais dos seus trabalhos em tela.
A imersão dos tecidos na Baía de Guanabara, como ato simbólico de protesto ambiental, com a intenção inicial de fazer com que houvesse marcas de detritos e óleo nas telas, não ocorreu. Os tecidos saiam limpos, mesmo quando mergulhados em ambientes degradantes e poluídos. Ao aplicar óleo, manta asfáltica e coloração natural sobre alta temperatura nos mesmos tecidos, a experimentação da artista começou a reagir, sofrendo a ação de leveduras, num fenômeno químico de decomposição de detritos sedimentados nos tecidos, gerando formas inusitadas e alterando as colorações das telas.
O cruzamento da grafia visual e da reação química de matérias orgânicas aos elementos vivos que se encontravam na tela, imprimiram uma marca implacável do tempo e do espaço, dando a sensação de força e tensão visuais as arranhaduras e nódoas justapostas na tela.
A organização de ideias da artista, inspirada nos Parangolés de Hélio Oiticica, que fundou a “antiarte ambiental” juntamente com a formulação das “ordens de manifestações”, transformou os materiais contidos no seu espaço de vivência e de experiência diários, em outra ordem de coisas, com experimentações de mutação do corpo vivo e transmutação da arte em vida autônoma.
Nas esculturas, a artista reinventa o metal naval, cimento, vergalhões e a madeira inutilizada, em boa parte das obras. Partindo destes experimentos, Duda convida o público a refletir sobre a potência existencial de vida, transformação e esperança no caos.
Sobre a artista
Artista plástica contemporânea, niteroiense, Duda Oliveira estudou arte experimental na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, e História da Arte e da Arquitetura do Brasil, na PUC RJ. Desde 2018, vem participando de diversas exposições, com destaque para as Feiras Internacionais da Alemanha, Luxemburgo, em Salas Culturais em Portugal, nos Museus MASP, MAC Niterói e outros importantes espaços culturais do Brasil e do exterior.
A visão literária e poética da pesca levou a escultora a se aventurar no mundo da Arte e do Direito Ambiental. Filha de um pai pregoeiro de pesca e de mãe bordadeira, Duda Oliveira exerce o direito ambiental e sua produção artística sofre a influência de pensadores tradicionais e contemporâneos, pelas obras de Jorge Amado, e a arte da pesca na Baía de Guanabara. A proximidade da escultora com o universo da pesca trouxe um forte senso de crítica social e propósitos de defesa dos valores constituídos por esse grupo.
Há 20 anos ingressou na militância do Direito Ambiental, especializando-se em Sociologia Política, para empreender de forma participativa. Com a luta e o árduo trabalho na carreira de advogada, veio a necessidade de uma terapia alternativa. Foi assim que a arte entrou em sua vida.