O Brasil conta atualmente com 10,7
milhões de portadores de deficiência auditiva, segundo cálculos do Locomotiva.
Ainda segundo o cálculo, 57% estão na casa dos 60 anos ou mais, e mais de 2
milhões têm deficiência severa. Do total pesquisado, 87% não usam aparelhos
auditivos. Um dos impedimentos para o uso do aparelho pode ser o medo de serem
alvos de preconceito.
Só que hoje já é possível utilizar um
aparelho minúsculo, quase imperceptível. Aparelhos grandes e incômodos ficaram
para trás. Do primeiro aparelho auditivo de carbono, criado em 1898 já em
escala comercial pela norte-americana Dictograph Products Company, aos modelos
atuais de aparelhos auditivos, ajustáveis à distância por fonoaudiólogos e
controlados pelo próprio usuário via smartphone, uma era se passou.
Durante esse tempo, o mercado conseguiu descobrir como embarcar tecnologia de
ponta em aparelhos cada vez mais menores e discretos.
“Houve um tempo em que o profissional
da fonoaudiologia era o vendedor do aparelho, e ia de porta em porta oferecer o
produto”, lembra Jéssica Lubczyk, fonoaudióloga da Audiba. “Na casa do
paciente, fazia a regulagem, o paciente dizia se estava conseguindo ouvir
melhor ou não e era só isso”, explica. Hoje, a tecnologia permite até que os
aparelhos diferenciem voz de ruído, e o usuário pode reduzir todo o barulho
ambiente indesejado – da TV, rádio ou outros – e concentrar apenas na voz com
quem ele conversa.
Do transistor a 60 canais
Dos aparelhos de carbono do fim do
século 19 para os transistorizados surgidos no início da década de 1950, foi
uma evolução e tanto. Os modelos com transistores exigiam menos uso de bateria,
o que fazia com que fossem menores e isso agradava os clientes. Os primeiros
aparelhos dessa geração foram criados para serem fixados nas hastes dos óculos
ou para serem acomodados nos bolsos. Antes de passarem para o encaixe atrás da
orelha, modelo que se consagrou como o mais adequado – os auditivos retro-auriculares,
ou BTE, sigla para behind the ear (atrás do ouvido) –, ainda ganharam uma
versão que se prendia à gravata.
Foi só em 1987, porém, que surgiram
os primeiros aparelhos digitais, o que deu início à nova geração de aparelhos,
cada vez menores e mais tecnológicos. Os primeiros modelos nasceram de uma
parceria entre a Universidade de Wisconsin e o Instrument Corporation Nicolet,
nos Estados Unidos. Divididos em duas partes, enquanto uma acomodava o
processador de uso, a outra era colocada atrás do ouvido, e eram ligadas por um
fio condutor. Três baterias eram utilizadas no modelo. “A partir do momento que
passaram a ser digitais, começaram a converter o som em códigos binários, o que
permitiu aos equipamentos filtrar determinados tipos de som”, detalha.
Uma sociedade que se julga no direito
de avaliar pessoas pela aparência, e não pelo que elas realmente são, perde
mais tempo constrangendo do que compreendendo necessidades e diferenças. O que
faz com que, infelizmente, muitos que sofrem de problemas auditivos evitem o
uso de aparelhos. O medo do preconceito, de olhares e comentários maldosos tira
a qualidade de vida de muita gente. A indústria dos aparelhos auditivos
entendeu o problema e passou a trabalhar cada vez mais com tecnologia para não
apenas reduzir o tamanho dos equipamentos, mas para oferecer ainda mais
qualidade para quem deseja viver a vida em sua plenitude.
“Os novos aparelhos têm até 60 canais
de som, e oferecem um som mais limpo. A gente brinca que dá para fazer às vezes
de dj com um aparelho desses”, diz Jéssica. Com a tecnologia disponível nos
dias atuais, o usuário consegue, por exemplo, tirar frequências baixas, como o
ruído do ar condicionado, ou o barulho que vem do lado de fora do carro estando
em trânsito, e ouvir apenas o que interessa.
Wireless e Bluetooth
Já a tecnologia wireless permite que
aparelhos utilizados nos dois ouvidos se comuniquem, fazendo o processamento
bilateral do som, algo muito próximo ao que o sistema auditivo faz. Os mais
modernos e discretos contam ainda com localizador. Caso o usuário tenha tirado
por algum motivo e não consiga encontrar, a tecnologia permite que ele use o
smartphone para encontrar o aparelho.
O aparelho chamado Estela conta com
tecnologia bluetooth para sistemas Android e iOS, e funciona também como fones
de ouvido, o que permite ao paciente, por exemplo, atender a uma ligação sem
precisar levar o celular ao ouvido. A bateria é de lítio, recarregável, e não
vicia, assim o paciente pode recarregar quando estiver dormindo e usar durante
todo o dia sem ser surpreendido negativamente com o fim da carga.
É também a prova d’água – ainda que
não seja recomendável utilizá-lo para tomar banho, por exemplo, caso aconteça
de o usuário esquecer de tirar ao entrar no chuveiro ou tomar chuva, por ser
blindado, o aparelho não sofre nenhum tipo de dano. E no celular, é
possível mexer no volume do aparelho e acompanhar o status da bateria.
Nos mais modernos, um sistema chamado
data login faz a leitura do uso do aparelho feito pelo paciente, em que
ambiente ele mais utiliza o equipamento, e quantas horas costuma utilizar. As
informações são enviadas diretamente para o fonoaudiólogo. Com elas, ele pode
melhorar a adaptação do aparelho ao paciente.
Aparelhos para músicos
O nível de sofisticação atual
permitiu ao setor desenvolver aparelhos especificamente para músicos com
deficiência auditiva. A linha premium dos aparelhos Audiba contam com
tecnologia que permite ao usuário identificar, por exemplo, se uma música está
sendo executada ao vivo ou se é gravada. “É uma tecnologia nova, que se adapta
a até 120 tipos de ambientes diferentes”, detalha Jéssica.
Uma linha nova de aparelhos
semelhantes a fones de ouvido chega embalados em uma caixa de recarga móvel. O
que permite ao paciente carregar rapidamente o aparelho, caso não tenha deixado
para carregar antes: basta colocar novamente na caixa e deixar que ele receba
carga, o que acontece rapidamente. Finos e discretos, estarão disponíveis a
partir de agosto nas unidades da Audiba.
“A tendência é cada vez mais
aparelhos recarregáveis”, informa Jéssica. “A maior parte da linha de entrada
ainda é de pilha, mas a tendência é que os aparelhos fiquem cada vez menores,
mais tecnológicos, e que todo o controle seja feito pelo celular. As baterias
devem ser excluídas desse tipo de produto, pensando até na questão ambiental,
para evitar o descarte de materiais tóxicos na natureza”, completa.