Mulheres que Inspiram: Danielle de Lara é pioneira na neurocirurgia catarinense
14/03/2023
Gustavo Siqueira
Ser
a primeira a realizar algo pode ser uma bênção ou um fardo - a escolha é de
quem carrega o peso. Para a neurocirurgiã blumenauense Danielle de Lara o
pioneirismo que sempre a acompanhou parece ser uma dádiva - ou uma vantagem. A
primeira médica da família também foi vanguardista em outros acontecimentos da
vida, que vê como degraus importantes da sua ascensão pessoal e
profissional.
Danielle
de Lara tem 41 anos, é mãe e médica neurocirurgiã com especialização em
Cirurgia Cerebral por vídeo na The Ohio State University, dos
Estados Unidos, além de Mestre em Saúde Pública, professora da Disciplina de
Neurocirurgia do curso de Medicina da FURB, supervisora do Serviço de
Residência Médica em Neurocirurgia do Hospital Santa Isabel e membro
internacional da Academia Americana de Neurocirurgia da Base do Crânio.
O
Projeto Mulheres que Inspiram, que está na terceira edição, conta um pouco da
história da neurocirurgiã que sempre soube que gostaria de trabalhar com o
corpo humano e muito conhecimento. A ação é uma iniciativa da Contax Contabilidade e
Planejamento Tributário desenvolvida com o apoio da Presse Comunicação.
A
dedicação para a Medicina sempre foi uma convicção para Danielle, que teve
muito apoio da família em toda a jornada. Família, na verdade, é algo inerente
à existência da médica. “Sou a primeira médica da minha família e tenho uma
família muito presente em cada etapa dessa trajetória, sempre muito incentivada
e celebrada. Meus pais sempre me fizeram crer que eu seria capaz de realizar tudo
o que eu acreditasse e que não deveria me abalar pelos obstáculos e sempre
seguir em frente”, relembra.
Pioneira
na formação
A
escolha pela neurocirurgia também é uma marca do pioneirismo de Danielle de
Lara, que foi a primeira mulher a se formar como neurocirurgiã em Santa
Catarina, há quase 15 anos. A posição também trouxe os desafios de ser a
primeira representante feminina a desbravar a área.
“O
principal desafio foi mostrar que quando há dedicação e paixão, seu sexo, cor
da pele ou crença não fazem diferença. Todos os meus colegas, chefes e
estagiários eram homens. Levou um tempinho até encontrar o meu lugar nesse
universo masculino, mas também tive o apoio de muitos deles nessa caminhada’,
avalia.
As
dificuldades e barreiras que enfrentou também serviram para que ela pudesse se
tornar um exemplo para outras mulheres que escolhem um caminho semelhante e
que, inclusive, podem contar com ela. “Tento fazer a minha parte quando educo
minha filha, como professora universitária e com meus residentes. Desde que
retornei ao Brasil, nosso serviço de Neurocirurgia já formou outras três
médicas neurocirurgiãs e me orgulho demais por isso”, celebra.
De
cara com o preconceito
Por
ter escolhido uma área de atuação que até hoje agrega mais homens que mulheres,
Danielle já precisou enfrentar situações de preconceito - inclusive de
pacientes. “Infelizmente, ainda existem situações em que a mulher é considerada
incapaz ou inferior. Basta conversar com uma mulher que trabalhe como
motorista, por exemplo. Na minha área, que é predominantemente masculina, senti
e ainda sinto isso, de colegas e até mesmo pacientes. Eventualmente de forma
velada, mas algumas de forma explícita, me dizendo que não se sentem seguros de
serem operados por mim por eu ser mulher. E o pior, já ouvi isso de outras
mulheres! A vida pessoal da mulher, especialmente da mãe, também pesa:
equilibrar casa, família e profissão nem sempre é simples”, avalia.
Apesar
de enfrentar o preconceito, para a neurocirurgiã é possível mudar esse cenário
com investimento em educação, oferecendo as mesmas oportunidades a meninas e
meninos e incentivando o desenvolvimento racional e cultural desde a
infância.
“Há
alguns anos, um estudo publicado na revista Science mostrou
que a partir dos seis anos [de idade] as meninas se consideram menos
‘brilhantes’ ou menos inteligentes do que os colegas meninos. Como uma criança
tão pequena pode acreditar nisso? Como vencer lá na vida adulta se na infância
já nos consideramos inferiores?”, questiona, ressaltando que se considera uma
eterna otimista e acredita em um futuro mais igual e justo entre mulheres e
homens.
“E
cada um de nós, mulheres e homens, têm um relevante papel para que esse futuro
realmente aconteça. Tento fazer a minha parte quando educo minha filha, como
professora universitária e com meus residentes. Então, mulher, acredite em você
e apoie outras mulheres. Ensine aos seus filhos o respeito ao outro, quem quer
que ele seja. Respeite as crenças, as ideias e o trabalho alheios. E ensine
seus filhos que eles são incríveis e invencíveis, sejam meninos ou meninas”,
conclui.