A juventude nunca esteve tão adoecida psicologicamente. De acordo
com uma pesquisa realizada pela UERJ, os casos de depressão aumentaram 90% e as
queixas de ansiedade e estresse duplicaram entre março e abril de 2020. O
cenário alarmante acaba ofuscando outra realidade tão ou mais preocupante: os
problemas de saúde mental enfrentados por idosos. De acordo com dados
publicados pelo IBGE em 2019, a população entre 60 e 64 anos é a mais afetada
pela depressão, doença que atinge 13% dos idosos.
Além da depressão, outros transtornos mentais e déficits
cognitivos tem grande prevalência na terceira idade. O tema, porém, é pouco
debatido. “Em uma sociedade que privilegia a produtividade, os idosos são
invisibilizados. Para o senso comum, idosos não tem mais sonhos, anseios,
individualidade. Por isso, não falamos sobre saúde mental dessa faixa etária”,
explica a psicóloga Mirian Conrado.
Conrado, que também é professora do curso de Medicina da UniFTC,
aponta que discussões sobre saúde mental tendem a diluir tabus e que essa
mudança de paradigmas é fundamental o Brasil. “Até 2030, seremos um país velho.
Com o aumento da expectativa de vida, é urgente discutir as condições em que
vivem os idosos, sobretudo sua saúde mental”, alerta.
Ainda de acordo com a psicóloga, as mudanças físicas, mentais e
psicológicas ocorridas na terceira idade podem gerar uma maior vulnerabilidade
para doenças do corpo e da mente. Assim, ter atenção a uma vida ativa, saudável
e autônoma para as pessoas idosas é de extrema importância.
Pandemia - Durante a pandemia
de Covid-19, o isolamento social ainda mais forte entre os idosos foi um dos
fatores que aumentaram os sintomas relacionados à depressão, ansiedade e
impactos na funcionalidade e independência desses indivíduos, como explica o
professor de psicologia da Rede UniFTC, Mateus Vieira. “Com o avançar da
pandemia, a demanda para o acompanhamento psicológico deste público aumentou”,
afirma o psicólogo.
Cuidado Especializado - Assim como as demandas de uma criança não são as mesmas de um
adolescente, a terceira
idade também tem suas especificidades. Segundo o psicólogo
Mateus Vieira, o profissional de Psicologia que se propõe a atender o
público idoso, precisa ter um saber especializado para essa assistência. De
acordo com o profissional, especialista em Psicologia Geriátrica, as demandas
são, em geral, relacionadas a situações de perdas reais e simbólicas,
comprometimentos na independência e a necessidade de reorganizar os papéis
sociais que acompanham o processo de envelhecimento.
O luto - Um dos principais
fatores de adoecimento mental em idosos é o processo de luto. Todos nós
passamos por inúmeros processos de luto durante a nossa vida. E, no caso dos
idosos, a morte passa a ser algo mais comum entre amigos e conhecidos. De
acordo com o psicólogo Mateus Vieira, o primeiro passo para trabalhar o luto na
pessoa idosa é compreendê-lo como um fenômeno ampliado e que engloba tanto as
perdas reais, como a morte de um ente querido, assim como as perdas simbólicas,
como a perda da funcionalidade, restrições na mobilidade, comprometimento
cognitivo e afins.
O acompanhamento psicológico, nestes casos, ocorre de forma
individualizada e através de técnicas terapêuticas que favoreçam o processo de
elaboração desse luto. “A família configura um importante recurso de suporte
funcional para a pessoa idosa que está atravessando o luto. Desta forma, é
ofertado o acolhimento psicológico aos familiares e as orientações necessárias
são dadas, visando uma melhor compreensão acerca do luto, suas fases e o como
eles podem dar o apoio necessário ao idoso”, explica Mateus.
“Além disso, é comum encontrar idosos em quadro de ansiedade, de
luto por perda de entes queridos e até viuvez, alcoolismo pós-aposentadoria,
enfrentando questões sexuais, depressão, dentre outras questões”, explica
Mirian. Ainda segundo a especialista, situações como essas demandam acompanhamento
psicológico.
Segundo a psicóloga Mirian Conrado, existem mudanças cotidianas as
quais não estamos preparados para lidar, o que causa também um processo de
luto. “Situações como a saída de casa dos filhos, restrições no convívio social
e de lazer, a aposentadoria, abalos no senso de utilidade, a solidão, a
ausência de papéis sociais valorizados, o aparecimento de doenças pela
degeneração biológica, o declínio da beleza e do vigor físico, a perda do
exercício pleno da sexualidade, a perda da perspectiva de futuro e muito mais
questões estão por trás do processo”, explica.
Como posso ajudar? - A gente
sempre tenta ao máximo ajudar uma pessoa querida, né? Quando se fala de pessoas
idosas, então… Quem tem aquele apego pela avó ou pelo avô, vai querer fazer
parte da cadeia de suporte para melhor ou manter o melhor da saúde mental dos
nossos velhinhos. Por isso, o professor Mateus Vieira traz algumas dicas de
como promover a saúde mental do público idoso.
“Um passo importante é favorecer espaços que eles possam se
colocar, serem escutados e acolhidos. Reconhecer neles, pessoas que tem seus
desejos, projetos e metas de vida. Portanto, respeitar a sua dignidade e
autonomia é um passo fundamental para a promoção da saúde mental da população
idosa”.