A indústria de Santa Catarina puxou a retomada da
economia em 2020, principalmente a partir de agosto, e tem registrado
desempenho superior à média brasileira em muitos indicadores, destacou o
presidente da Federação das Indústrias (FIESC), Mario Cezar de Aguiar. Ele
conversou com jornalistas, nesta quarta-feira, dia 9, e salientou que a
indústria catarinense liderou a retomada do emprego.
As vagas fechadas de março a maio foram
recuperadas no período de junho a outubro e no acumulado do ano até outubro o setor
de transformação e a construção civil registram saldo positivo de 33,6 mil
vagas. “A resiliência do industrial catarinense e as medidas governamentais
permitiram uma recuperação muito mais rápida do que se esperava no início da
pandemia”, afirmou Aguiar.
Ele ressaltou que a recuperação ocorre em
diferentes velocidades entre os setores, mas, no geral, a indústria apresenta
taxas de crescimento maiores do que as demais atividades. “Um conjunto de
fatores explica esse comportamento, como a adaptação aos protocolos de
segurança, rápida retomada da atividade industrial e o auxílio de medidas do
governo federal, como a MP 936, que teve grande aderência por parte da
indústria catarinense, que firmou 363 mil acordos. Esse número corresponde a
43,5% do total de acordos do estado”, explica.
Dados do Observatório FIESC mostram o elevado
nível de confiança do industrial catarinense que alcançou 66,5 pontos em
novembro (a média do país foi 62,9 pontos) e a maior intenção de investir da
série histórica, com 74 pontos em setembro, contra 59,3 pontos da média
nacional.
“A rápida retomada do consumo e da economia como
um todo surpreenderam o industrial que precisou fazer rápidos ajustes para a
retomada da produção. O efeito dessa recuperação repercutiu no maior índice de
intenção de investir de toda a série histórica da pesquisa para Santa
Catarina”, observa Aguiar, lembrando que, por outro lado, a surpreendente
retomada desorganizou cadeias produtivas e trouxe desafios como falta de
matérias-primas e pressão nos preços.
O faturamento é outro indicador que apresenta
setores com recuperação, como é o caso de alimentos e bebidas que cresceu
(23,4%) de janeiro a outubro na comparação com o acumulado de 2019, conforme
dados da Secretaria da Fazenda. No mesmo período, outras atividades registraram
expansão, como equipamentos elétricos (17,8%), madeira e móveis (7,3%),
celulose e papel (7,9%) e fármacos e equipamentos de saúde (33,6%).
“A análise mostra que, como consequência das
medidas de isolamento social, o padrão de consumo da população brasileira
mudou. Aumentaram as compras de alimentos e bebidas e isso se refletiu nas
vendas deste setor, que registrou o melhor desempenho entre os avaliados. Com a
população passando mais tempo em suas casas, também cresceu o mercado de itens
como eletrodomésticos e móveis e madeira”, disse o presidente da FIESC.
O comércio exterior catarinense tende a fechar o
ano negativo. De janeiro a novembro, as exportações registram queda de 9,4% e
as importações diminuíram 9,1% em comparação com o mesmo período no ano
passado. A alta do dólar, a crise do coronavírus no mundo e as distorções nos
preços ocasionados pelo descompasso entre demanda e oferta de diferentes
setores foram as principais causas para o resultado. Ainda assim, observa-se
certa constância nos setores exportadores tradicionais, com expansão das vendas
externas de suínos e madeira e móveis.
“Apesar de a indústria caminhar para a
recuperação das perdas por conta da pandemia, há desafios no horizonte que
exigem cautela para manter o nível de crescimento em 2021, como o controle do
endividamento público, o reequilíbrio do fornecimento de insumos, as reformas
estruturantes, o fim do auxílio emergencial e a demora para a chegada da
vacina”, observa Aguiar.
Pontos de atenção que vão influenciar no
crescimento em 2021:
- Fim do auxílio emergencial: não está claro qual
será o impacto do fim do auxílio emergencial no consumo e se a economia terá
condições de manter a taxa de crescimento sem ele. Por isso, os fatores
listados abaixo serão fundamentais:
- Controle de
endividamento público: o controle dos gastos públicos é uma condição importante
para manutenção do fator de risco de investimento no Brasil, refletindo na
manutenção da baixa taxa de juros.
- Manutenção da
baixa taxa de juros: uma baixa taxa de juros é condição necessária para um
melhor acesso à crédito e estímulo de investimentos.
- Reformas
estruturantes: O avanço das reformas é condição fundamental para diminuir o
grau de incerteza sobre a economia brasileira e iniciar uma trajetória de
crescimento econômico mais sustentável.
- Reequilíbrio do
fornecimento de insumos: o reequilíbrio de fornecimento de insumos terá impacto
nos preços, levando os valores para um nível normal de mercado e eliminando a
falta de insumos em diferentes cadeias produtivas.
- Demora para
chegada da vacina: A chegada da vacina contra o coronavírus vai ser condição
essencial para uma melhora da economia. Um dos importantes desafios está em
construir uma estrutura de distribuição dela para a população.