A cidade de Florianópolis, em Santa Catarina, recebeu
dezenas de cientistas, empresários e investidores nesta semana no encontro de deep
biotechs promovido pela Vesper Ventures, uma venture builder que
aposta em startups de biotecnologia avançada. O Vesper Annual Meeting foi
realizado nos dias 25 e 26 de setembro no Espaço +UM, onde está o polo de
biotecnologia da empresa.
Entre os palestrantes convidados, nomes de peso como Dr.
Jorge Kalil, professor Titular e Chefe de Imunologia Clínica e Alergia da
Faculdade de Medicina da USP e Membro da Academia Brasileira de Ciências; Dário
Guarita, cofundador da ECOA Capital e Presidente do Conselho Urbem; Rogerio
Vivaldi, CEO da Sigilon Therapeutics, Inc. e membro do conselho administrativo
da Crinetics Pharmaceuticals; Geraldo Berger, VP e Head of Regulatory Science
Latam da Bayer Crop Science; Alberto Back, sócio-fundador do MercoLab
Laboratórios; e Jefferson Gomes, diretor de tecnologia e inovação do SENAI.
Julio Moura, cofundador e chairman da Vesper Ventures,
abriu o evento explicando o impacto das mudanças climáticas na economia global
e a oportunidade que isso representa. “É neste cenário que as biotechs se
destacam, pois oferecem aos investidores a possibilidade de investir em
propósito, gerar impacto e ainda fazer um bom negócio”.
A Vesper Ventures já investiu e ajudou a estruturar 7
startups com propósito de colaborar com soluções disruptivas para problemas
globais.
“Investir em biotech é diferente. É apostar em uma
empresa que pode ficar 6 anos sem gerar receita, mas que está desenvolvendo um
ativo que pode valer 1 bilhão de dólares ou mais depois”, revela Gabriel
Bottos, CEO da venture builder.
A empresa usa um modelo que consiste em buscar projetos
de impacto e dar todo o apoio necessário para que os cientistas possam focar no
que são bons enquanto a Vesper cuida da parte da estruturação da startup.
No centro do debate do primeiro dia, dedicado ao
agronegócio, o dilema: como alimentar 8 bilhões de pessoas sem prejudicar o
meio ambiente? Para isso, três biotechs voltadas ao desenvolvimento de soluções
disruptivas para o agronegócio expuseram suas inovações e tecnologias: InEdita
Bio, Symbiomics e Reddot Bio. Cada uma, em sua área de aplicação, apresentou
dados relevantes do impacto das soluções desenvolvidas.
Ex-professor da Unicamp e CEO da InEdita Bio, Paulo
Arruda explicou o potencial da edição genômica para uma produção agrícola com
um menor impacto ambiental. Segundo o especialista, até 2050, será preciso
aumentar em 25% a produção de alimentos por conta do crescimento da população.
“Com a produtividade atual, precisaríamos plantar 70
milhões de hectares a mais só de milho e soja. Mas hoje estamos falando em
reduzir o desmatamento, então, como fazer isso? Uma das soluções passa por ter
safras com maior produtividade – ou seja, produzir mais no mesmo ou menor
espaço”, explica.
A plataforma desenvolvida pela startup promove a edição
genômica (não-transgênica) de sementes - pequenas modificações no gene, capazes
de desenvolver plantas mais resistentes a pragas e doenças sem o uso de
pesticidas químicos.
Ao falar da Symbiomics, Rafael de Souza, CEO e um dos
fundadores da startup, abordou a importância dos microrganismos para também
resolver esses problemas. Um dos exemplos do cientista foi o uso dos
fertilizantes nitrogenados. Segundo Souza, cerca de 70% do químico não é
absorvido pela planta e acaba perdido, contaminando o lençol freático.
“O impacto das aplicações gira em torno de 10 bilhões de
dólares por ano e em uma emissão de 10kg de gases de efeito estufa para cada
quilo de ureia produzido. Porém, existe um microrganismo capaz de se associar à
raiz da planta e fornecer a ela o nitrogênio disponível no ar, evitando o uso
da ureia. Ou seja, com um microrganismo, podemos mudar o mundo”, afirma. Todo
esse segmento, segundo ele, está avaliado em 12,4 bilhões de dólares e, até
2028, deve chegar a 30 bilhões.
Já as soluções da Reddot Bio estão contribuindo,
inicialmente, para o setor da avicultura. Segundo Rafael Bottos, fundador e CEO
da startup, a Reddot “está construindo a próxima Blockbuster da indústria de
diagnósticos moleculares, o que vai impactar a vida de milhões de pessoas e
gerar um valor multimilionário”. A biotech desenvolveu uma tecnologia capaz de
reduzir drasticamente o tempo de detecção precisa de patógenos em animais e
alimentos. No caso da salmonella, a detecção é 10 vezes mais rápida. Em
humanos, um dos alvos será o HPV. Tudo com uso de solução in loco, sem
necessidade de grandes estruturas laboratoriais.
Inovações na área da saúde
O segundo dia do Vesper Annual Meeting 2023 foi dedicado
à saúde. Gabriel Bottos abriu a rodada de apresentações afirmando que a área
ainda é desconhecida em termos de investimento no Brasil.
“Encontros como esses que estamos realizando aqui vão
aproximar os universos de investidores e cientistas para que se perceba o
potencial de negócio e a capacidade do Brasil de desenvolver tecnologias de
ponta global”.
O executivo destacou que existem hoje 7 mil doenças raras
no mundo, sem tratamentos para todas elas, e que uma terapia para um câncer que
não tem cura é estimada em cerca de 2 bilhões de dólares. Já os custos para a
economia global com câncer e Alzheimer, por exemplo, somam quase U$ 30
trilhões, segundo levantamentos internacionais recentes.
Neste setor, quatro startups brasileiras estão na
vanguarda de tratamentos inovadores em diferentes áreas: a Vyro
Biotherapeutics, que usa a biotecnologia para criar tratamentos de saúde
revolucionários baseados na utilização do zika vírus modificado por engenharia
genética; a Aptah Biosciences, startup que realiza pesquisas de novas terapias
de RNA voltadas para o tratamento de doenças relacionadas ao envelhecimento,
especialmente cânceres e doenças neurodegenerativas; Futr Bio, focada no
desenvolvimento de vacinas de mRNA de próxima geração para prevenir e curar
doenças como infecções e cânceres; e Cellertz Bio, que tem como objetivo
principal a identificação dos alvos genéticos através de inteligência
artificial para desenhar terapias potenciais e alcançar resultados terapêuticos
sem precedentes.
“Uma inovação disruptiva, na minha opinião, é aquela que
muda algo radicalmente, que altera o padrão atual. E que tem um efeito cascata
significativo, além de sua área específica. É aquela que também resulta em uma
nova liderança em um determinado campo. E o que é mais interessante é que a
maior parte dessa inovação na medicina ou nas ciências da vida não veio de
grandes empresas, mas dos pequenos participantes desse campo, como as startups
de biotecnologia que temos aqui. E é preciso fomentar isso, investidores e
governos, para que o Brasil cresça nesse setor cada vez mais e finalmente ocupe
o seu devido lugar na economia global”, afirmou Dieter
Weinand, chairman do board da Aptah Bio e da Replimune, e
ex-CEO da Bayer Pharma AG.
Sobre a Vesper
Criada em 2018, a Vesper Ventures é
uma venture builder fund com foco em biotecnologia avançada. Tem como
principal objetivo a cocriação das empresas junto aos cientistas e
investimentos financeiros, através de fundos próprios. Os projetos selecionados
são inovações disruptivas que endereçam grandes desafios globais na saúde
humana, agronegócios e meio ambiente.
Com a visão de que as empresas só podem ser
verdadeiramente bem-sucedidas em uma sociedade próspera e em um planeta
saudável, a Vesper seleciona projetos ainda em early stage de grandes
cientistas brasileiros e os ajuda a criar todos os procedimentos de gestão, com
uma equipe administrativa que faz um acompanhamento muito próximo às operações
das startups. Isso além de possibilitar a essas empresas acesso a capital, seja
da própria venture builder ou de terceiros.
Todos os projetos encampados pela venture
builder passam por uma rigorosa avaliação e apoio de conselheiros
científicos de grande experiência nacional e internacional. Comandada por
Gabriel Bottos, CEO e um dos fundadores, a Vesper conta ainda com outros quatro
sócios: Pedro Moura, Julio Moura, Rafael Bottos e Jonas Sister.