A pandemia
transformou a rotina de diversas pessoas ao redor do mundo, principalmente em
relação à sustentabilidade. Dentro de casa, aumentou a percepção quanto a
importância de modelos de consumo mais conscientes e responsáveis, como a
escolha de produtos mais duráveis e que geram menos resíduos. No entanto, a
transformação mais significativa, que deveria vir por parte das empresas, ainda
é relativamente tímida.
De acordo com
Mariana Schuchovski, professora de Sustentabilidade do ISAE Escola de Negócios,
a disseminação do vírus é resultado do atual modelo de desenvolvimento, que
fomenta o uso irracional de recursos naturais e a destruição de habitats, como
florestas e outras áreas, fazendo com que animais, forçados a mudar seus
hábitos de vida, contraiam e transmitam doenças que não existiriam em situações
normais. “Situações de desequilíbrio ambiental, causadas principalmente por
desmatamento e mudanças de clima, aumentam ainda mais a probabilidade de que
zoonoses, ou seja, doenças de origem animal, nos atinjam e alcancem o patamar
de epidemias e pandemias”, explica a especialista.
A especialista
aponta que todos nós, indivíduos, sociedade e empresas, precisamos entender e
refletir sobre os impactos desta pandemia no meio ambiente e na
sustentabilidade. Mas, principalmente, na sua relação inversa: o impacto da
(in)sustentabilidade dos nosso modelo de produção e consumo como causador desta
pandemia. “Toda escolha que fazemos pode ser para apoiar ou não a sustentabilidade”,
diz Mariana. Por outro lado, para que possamos fazer melhores escolhas e
praticar o verdadeiro ‘consumo consciente’, é necessário que, em primeiro
lugar, as empresas realizem a ‘produção consciente’, assumindo sua verdadeira
responsabilidade sobre os impactos que causam.
Entretanto, as
grandes corporações, que dominam o mercado mundial e que possuem faturamentos
maiores do que o PIB de muitas nações, ainda não colocaram em prática as
inúmeras possibilidades de produção consciente existentes, como a busca por
matérias-primas renováveis e de origem não fóssil ou o desenvolvimento de
embalagens que substituam o plástico. “Não há limites para o que as empresas
poderiam realizar se realmente fossem comprometidas. No entanto, apesar dos
recursos financeiros abundantes e da grande capacidade de influência para
realizar estas mudanças, as empresas ainda se encontram em um estado
inexplicável de comodismo, transferindo integralmente suas responsabilidades ao
consumidor”, afirma ela.
A pergunta que
fica é: como será o pós-pandemia? Ou melhor, como queremos ser após esta
pandemia? Segundo a especialista, o pós-2020 vai depender, principalmente, das
nossas escolhas. “Precisamos reestabelecer os valores humanos, como ética e
respeito, e encontrar o caminho correto para a (re)construção da sociedade com
a ajuda das novas gerações”, diz. “Esta pandemia é um verdadeiro lembrete sobre
como devemos pensar no equilíbrio da nossa relação com as pessoas, o meio
ambiente e os recursos financeiros. Mas também é um convite à transformação”,
complementa Mariana Schuchovski.