Em um momento de crise mundial em que a prioridade é a aquisição de itens de alimentação, higiene e saúde, fazer parte da indústria da moda constitui grande desafio.
Entre outros segmentos que terão que repensar em vários aspectos .
De acordo com a Câmara de Comércio Internacional, esta é uma das três áreas que mais sentirão os impactos da queda de vendas durante e pós-pandemia.
As outras duas são aviação e turismo. Mas, para além das questões financeiras – a moda é uma das indústrias que mais empregam mão de obra no país 8 milhões de empregos – grande parte mulheres o atual momento preconiza uma mudança real do consumo.
É previsível e anunciado que um novo ethos (espécie de síntese dos costumes de um povo) fashion está se forjando e o uso de streaming será uma condição sine qua non para se adaptar à era de recessão pós-coronavírus, que também vai exigir uma diferente percepção e ousadia para construir uma economia de base circular, com outros valores e formas de lidar com a produção, transporte, distribuição e varejo.
Maristela Brittes
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Giorgio Armani (Foto: Getty Images)
Giorgio Armani
“O declínio do sistema de moda, tal como o conhecemos, começou quando o setor de luxo adotou o modo operacional do fast fashion com o ciclo de entrega contínua, na esperança de vender mais... Eu não quero mais trabalhar assim. É imoral.
Não faz sentido que um casaco ou um terno meu fiquem na loja durante três semanas, se tornem imediatamente obsoletos e sejam substituídos por mercadoria nova -- que não é muito diferente do que a precedeu. Eu não trabalho assim, acho que é imoral fazê-lo. Sempre acreditei em uma ideia de elegância sem tempo, na realização de roupas que sugerem uma única maneira de comprá-los: que durem no tempo.
Pela mesma razão, acho absurdo que durante o inverno, na loja, haja roupas de linho e, durante o verão, casacos de alpaca: isso pela simples razão de que o desejo de compra deve ser satisfeito imediatamente. Quem compra roupas para colocá-las dentro de um armário esperando a temporada certa para usá-las? Ninguém ou poucos, acredito. Mas esse sistema tornou-se a mentalidade dominante
É preciso mudar. Esta crise é uma oportunidade para flexibilizar tudo, para realinhar, para desenhar um horizonte mais autêntico e verdadeiro.
Chega de desperdício.
Esta crise também é uma oportunidade para devolver valor à autenticidade. Chega de entreter com shows fantásticos que hoje se revelam pelo que são: inapropriados e também vulgares. Chega de desfiles em todo o mundo, feitos através das viagens que poluem. Chega de desperdício de dinheiro em shows. São apenas pinceladas de verniz em cima do nada. O momento que estamos passando é turbulento, mas nos oferece a chance única de consertar o que está errado, de tirar o supérfluo, de encontrar uma dimensão mais humana... Esta é talvez a lição mais importante desta crise."
fonte: Vogue Brasil/ pesquisa