Sabe aquelas vovós bem fofas que dá vontade de abraçar, cheirar e não sair mais de perto? Esta é a Vó Téia, uma lageana de garra e de braços bem abertos para as surpresas boas do mundo
O brilho e a alegria estampados nos olhos transpassam a limitação que a máscara de proteção facial impõe sobre as feições, sentimentos e emoções das pessoas, já que o rosto é a moldura das bagagens do coração. O acessório inesquecível dentro das gavetas nestes tempos de pandemia virou tendência também para esta senhorinha simpática, de cabelos branquinhos e semblante de satisfação. Por quê? Ela está de aniversário e coincidentemente o maior presente da sua vida foi entregue sem embrulhos em papéis metalizados e coloridos ou com pompas de laços vermelhos, veio discretamente, bem cedo, na manhã desta terça-feira (16 de março), quando Nilcéia Pereira Rosa completa seus 77 anos e alcança o direito adquirido e gratuito de receber a primeira dose de imunização contra o novo coronavírus, gerador da doença Covid-19, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), uma das grandes vitórias da humanidade, um sopro imenso de vida após incansáveis pesquisas e estudos nacionais e internacionais na corrida contra o relógio em favor da ciência e de um futuro de normalidade.
Ela se arrumou toda para este grande dia: Blusa estampada e tiara preta em contraste com seus cabelos brancos, o carimbo de comprovação da sua experiência. Vestida de bom astral e sorrisos, a vovó não disfarçou nem um pouco sua ansiedade e sua crença. “Uma picadinha no braço que não dói, pelo contrário, me transbordou de confiança e entusiasmo, estou cheia de energia renovada para seguir com longevidade e fé”, resume, empolgada.
E ela nem precisou fazer esforço ou passar por algum desconforto, pois a vacinação foi por drive-thru, no Parque de Exposições Conta Dinheiro, ou seja, foi imunizada dentro do carro mesmo, para sua segurança e agilidade neste processo de imunização gradativa que deve contemplar todos os idosos de Lages. “Cheguei aqui ‘fazer’ a vacina e ‘tá’ tudo bem, ‘tô’ de aniversario e ganhei a vacina”, desabafa, às gargalhadas, junto às enfermeiras e técnicas de enfermagem no Parque. “Eu estava com medo da doença e medo de fazer a vacina, mas em nome de Deus eu tomei coragem, fui e fiz. Vou celebrar mais este ciclo de vida com a filha e dois netos que moram aqui juntos. Pouca gente e total cautela, pois, apesar de ter sido vacinada, esta é a primeira dose, e os cuidados de uso da máscara, higienização e desinfecção das mãos e distanciamento social não podem e nem devem ser deixados para trás. Temos de pensar em todos”, aconselha dona Nilcéia.
Nascida em 16 de março de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, a vovó Nilcéia ainda era bebê quando a Segunda Guerra atingiu seu último ano (1939 - 1945), pois terminava a Batalha de Iwo Jima. Porém, permaneciam focos de resistência japonesa e 90% da cidade alemã de Würzburg eram destruídos, com cinco mil mortos em apenas 20 minutos de bombardeio britânico.
A única guerra agora é contra o aumento do contágio pelo novo coronavírus, que tem levado tanta gente embora definitivamente, sem as despedidas esperadas pelos familiares. Todavia, é hora de lutar.
Dona Nilcéia mora no bairro São Vicente e escolheu Lages, sua cidade Natal, para continuar escrevendo novas páginas da sua vida. A família é grande e está toda animada em saber que a matriarca está, agora sim, ainda mais amparada.
Nilcéia é viúva, mãe de quatro filhas e paparica seus 13 netos, seis bisnetos e um tataraneto, carinhosamente chamada de Vó Téia. Evangélica, faz suas orações e a fé é reabastecida diariamente, sem falhas. “Tem ficado só dentro de casa. No começo ela tinha receio de tomar a vacina, mas nós falamos para ela que significa uma maior defesa do organismo contra a doença, aí ela topou. Graças a Deus nossa mãe ganhou a vacina de presente nesta data tão especial, hoje basta apenas comemorar, claro, somente nós da família”, lembra uma das filhas, Ester Rosa.
Os super-heróis de branco
Inspiração para quem precisa de um olhar sincero e uma palavra de superação, mais à frente da manutenção dos batimentos cardíacos e das demais funções essenciais ao ser humano pelo manuseio de equipamentos de entendimento complexo, os profissionais da Saúde sentem a dor do próximo e são consolos permanentes. E vivenciar a felicidade de dona Nilcéia tem o mesmo efeito do sorriso de uma criança depois de um dia abarrotado de trabalho, é revigorante.
Para a gerente na Vigilância Epidemiológica, Mariana Pereira Decker, este é um dos fatos emocionantes e marcantes no livro da missão de cuidar das pessoas. “Poder conhecer estas passagens e saber que estamos tornando a vida das pessoas mais leve e as enchendo de gás para enfrentar os desafios nos dá ainda mais motivação para compreender que estamos no caminho mais perto de sair deste túnel escuro a caminho da luz, da cura, do bem-estar, de vencer. Nosso compromisso com a vida nunca pode parar.” Ao finalizar, dona Nilcéia não fez escapar seu agradecimento. “Sintam-se abraçados, trabalhadores da Saúde, e obrigada pela força e pelo suor derramado. Estamos todos no mesmo barco, remando em favor do vento da positividade. É de mãos dadas que passaremos por esta tempestade. Cuidem-se e não esqueçam: Sempre fica um perfume nas mãos de quem oferece flores.”
E o vovô e a vovó aí, já tomaram a vacina?
Desde esta segunda-feira (15 de março), a prefeitura de Lages, por intermédio da Secretaria da Saúde, abriu a vacinação contra a Covid-19 para os idosos com 77 anos completos e acima desta idade. A imunização com aplicação de doses no sistema drive-thru segue das 9h às 19h no Parque de Exposições. Ainda neste local, os idosos na faixa etária de 85 anos ou mais, que receberam a primeira dose da Coronavac há 21 dias, também podem ser imunizados, desta vez com a segunda dose.
Os idosos com idade a partir dos 77 anos, além de terem a sua disposição o Parque Conta Dinheiro, poderão ser imunizados na Central de Vacinas, ao lado da Policlínica Municipal, no horário das 8h às 18h15min. Neste caso é necessário ao idoso descer do veículo e acessar a Sala de Vacinas para ser atendido.
Indispensável apresentar documento oficial com foto e o Cartão SUS ou Cadastro de Pessoa Física (CPF). Os idosos com 85 anos ou mais, que irão receber a segunda dose, também deverão apresentar o comprovante de recebimento da primeira dose da vacina. Em caso de extravio será necessário retirar uma segunda via no setor de Cadastro, instalado logo no acesso de entrada do Parque Conta Dinheiro.
Texto: Daniele Mendes de Melo
Fotos: Natalia Brocardo